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sábado, 22 de maio de 2010

Sub-15: o maior desafio das categorias de base?

Na faixa etária que se estende dos 13 aos 16, atletas têm de se readaptar ao novo corpo e assimilar o processo de reconhecimento motor das mudanças morfológicas

Por Gustavo Querido, Renato Buscariolli de Oliveira, William Sander Figueiredo - Universidade do futebol

A polêmica entre os profissionais que atuam com futebol de base: a categoria Sub-15 (Infantil) é a mais desafiante (leia-se mais complexa) dentre as categorias de base?

Antes de iniciar o texto propriamente dito, gostaríamos de esclarecer que definitivamente o intuito aqui não é julgar se uma categoria é mais ou menos importante do que outra e muito menos determinar uma escala de valores para estas. Até porque, sob nosso ponto de vista, quando se pensa nessas categorias, deve-se ter em mente a palavra processo, e neste contexto todas as etapas (leia-se categorias) que participam do desenvolvimento do “produto” final (formação de um jogador de futebol) possuem o mesmo grau de significância. É justamente a boa concatenação entre estas que leva a um produto final de alto valor.

Todavia, sabemos que há diferenças entre cada uma destas etapas. Elencaremos aqui algumas particularidades próprias da categoria Sub-15 que podem justificar o título deste texto, ou ao menos alertar os profissionais nela envolvidos da sua complexidade.

Nesse contexto, o primeiro ponto de destaque inerente ao Sub-15 diz respeito ao processo maturacional. Como é de conhecimento geral, a faixa etária que se estende dos 13 aos 16 anos (nos meninos) é também conhecida como a “fase do estirão”. É justamente nessa fase do crescimento e desenvolvimento da criança que ocorrem grandes transformações morfológicas que vão desde alterações na voz, crescimento de pelos, desenvolvimento do pênis e escroto até aumento de massa muscular e ganho de estatura. Ou seja, o corpo destes jovens atletas passa por uma série de transformações que trazem grandes implicações dentro do processo de formação.

De forma sucinta, estas implicações atuam de duas maneiras. A primeira delas diz respeito a uma readaptação do atleta ao seu novo corpo. Nesta fase, o indivíduo passa por um processo de reconhecimento motor das mudanças morfológicas ocorridas, vivenciando um período de perda de coordenação motora que em muitas vezes interfere negativamente no seu desempenho dentro de campo, visto que desde a corrida até a relação com a bola é prejudicada nestas circunstâncias. Esta fase é transiente e requer paciência e consciência tanto por parte dos atletas como pela comissão técnica responsável.

A segunda implicação relaciona-se à cronologia em que estas mudanças ocorrem dentro do elenco, visto que há uma grande variabilidade na velocidade e no momento em que estas alterações se processam. Assim, alguns atletas se beneficiam destas mudanças morfológicas (com aumentos significativos em determinadas valências físicas), enquanto outros sofrem dificuldades para superar seus companheiros mais “maturados”. Cabe à comissão técnica o cuidado para não cometer nenhum equívoco privilegiando atletas com maturação precoce em detrimento dos mais tardios, visto que os últimos podem apresentar maior potencial do que os primeiros.

É clássico na literatura esportiva (não apenas no futebol) trabalhos que apontam predomínio de atletas nascidos nos primeiros meses do ano nas categorias de base. Vale relembrar aqui aquela “velha” discussão sobre “formar ou ser campeão nas categorias de base”. Apesar de não considerarmos que estes processos sejam excludentes, mesmo no Sub-15, em que o processo maturacional interfere sobremaneira no rendimento, acreditamos que algumas ressalvas devam ser feitas.

Ainda sob este viés, destacamos o caso específico dos goleiros, já que o sucesso nesta delicada e “temida” posição parece depender (não entraremos a fundo nesta discussão neste momento) entre outros, de uma boa estatura. Assim, este acaba se tornando um caso emblemático visto que um goleiro de grandes qualidades técnicas e de referência nesta categoria pode não dar continuidade ao longo do processo de formação, se detectado (através de um exame de idade óssea, por exemplo) que não possui possibilidade de atingir alturas consideradas mínimas para o mercado de trabalho. Novamente, este será um problema vinculado a esta categoria, já que apenas goleiros com boa estatura (ou potencial para) darão continuidade no processo de formação. Os demais (cujos profissionais responsáveis investiram tempo, dedicação e empenho) serão automaticamente excluídos, gerando um estresse emocional e psicológico enorme.

Findada a temática maturacional, há a problemática relacionada ao início da sistematização do treinamento, também intrínseca ao Infantil. De maneira geral, ainda hoje, os atletas que chegam ao início da temporada para compor esta categoria em um grande clube são em sua maioria atletas que nunca passaram por um processo de treinamento sistematizado, sendo na maioria dos casos meninos que se destacam em suas cidades e em clubes onde disputam competições de nível municipal. Este processo vem sofrendo alterações, com a criação pelas federações responsáveis de campeonatos para categorias menores (Sub-11 e Sub-13) como ocorre, por exemplo, no estado de São Paulo. Todavia, muitos clubes (muitas vezes por contenção de gastos) optam por não disputar estas categorias, retornando ao quadro anteriormente citado.

Assim sendo, desde os conteúdos técnico-táticos até aos ditos físicos, faz-se necessária uma abordagem pedagógica do treinamento, já que a sistematização deste processo por si só é algo novo para estes atletas. Dar significado aos treinos, assim como a conscientização da importância de cada um deles (desde a necessidade de se trabalhar a perna não dominante até ao papel profilático do trabalho de força dentro da sala de musculação), é específico desta etapa, visto que em categorias maiores tais condutas devem estar automatizadas.

Para ilustrar esta situação, novamente trazemos à tona a figura dos goleiros. Geralmente estes são os atletas de maior estatura da equipe, apresentando uma “lentidão” peculiar na execução de determinadas tarefas motoras, assim como uma demora na assimilação de novos conteúdos, visto que seu repertório motor está em formação (lembre-se: os garotos não apresentam lastro de treinamento e estão em plena fase de estirão!).

Normalmente, os primeiros contatos com as metodologias de treino para as habilidades fechadas (pegar, saltar, cair, manipulação da bola, etc.), assim como para as habilidades abertas (estruturação do espaço dentro e fora do gol, comunicação na ação defensiva/ofensiva, saída do gol, etc.), acabam sendo marcantes nesta fase. A saída de gol, por exemplo, ação extremamente complexa que envolve a combinação de uma série de fatores para o seu êxito (concentração, tempo de bola, tomada de decisão, leitura de jogo, inteligência espacial, explosão muscular, técnica de saída, etc.) requer uma demanda de tempo e esforço enorme para que esteja bem aprimorada. Caso o profissional responsável por este jovem não tenha a devida paciência, pode correr o risco de queimar etapas ou abreviar a carreira de um potencial atleta ainda nesta faixa etária.

Podemos destacar ainda algumas dificuldades relacionadas à disciplina (devido à imaturidade) ou mesmo ao entendimento do modus operandi de um grande clube (desde a divisão de tarefas até as hierarquias presentes nestas instituições). O simples fato de o jovem atleta perceber que neste novo contexto ele é mais um bom jogador dentro de um elenco e não mais o jogador (da sua cidade ou ex-clube), além de ter que se dedicar ao máximo em cada sessão de treino, requer um tempo de amadurecimento.

Em relação aos fatores extra-campo, é no Infantil que geralmente ocorre a primeira separação dos atletas dos seus pais, principalmente no que diz respeito aos atletas que alojam nos clubes e têm que morar longe de casa para lutar pelos seus sonhos. Este é um momento delicado que exige bastante carinho e compreensão, tanto por parte dos pais, como por parte dos profissionais envolvidos, visto que este processo atinge não apenas o desempenho dentro de campo, como também as demais tarefas diárias deste jovem, interferindo diretamente em seu futuro. Aqueles atletas que não têm a necessidade de alojar, também vivenciam um processo de separação dos pais (principalmente da figura paterna), visto que o jovem passa a perceber (em alguns casos mais rápido outros mais lentamente) que o pai não é o seu técnico/preparador físico.

Geralmente, a comissão técnica que trabalha com o Infantil participa ativamente desta “transformação”, sendo esta a categoria da base que de certa forma estabelece um maior relacionamento com pais de atletas (quando comparada ao Sub-17 e Sub-20).

Esta ponte com os pais acaba sendo um papel importante no dia-a-dia deste profissional, visto que não apenas o seu carisma com o atleta, mas também com os pais, é fundamental para manutenção deste potencial jogador em muitos clubes.

Enfim, apesar das dificuldades e considerações acerca desta categoria, julgamos os profissionais que trabalham com a mesma, privilegiados, uma vez que têm a oportunidade não apenas de ensinar futebol e tudo aquilo que está envolvido com o processo de treinamento, mas também de participar ativamente da formação educacional deste jovem, podendo marcá-lo para o resto de sua vida, independentemente de qual carreira este irá seguir.

Como Manoel Sérgio já disse (sobre a relação atleta/treinador), “o que fica são os valores humanos”. Desta forma, cabe a este profissional, além de superar todos os obstáculos citados, ser diferente naquilo que faz, atualizando-se, ousando sempre e deixando de ser “mais um”. Semelhante ao que fez Paulo Barros na Unidos da Tijuca em 2010: além de ser campeão, revolucionou o Carnaval carioca!

Publicado no site universidadedofutebol.com.br no dia 04/05/10.

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Sub-15: o maior desafio das categorias de base?
Na faixa etária que se estende dos 13 aos 16, atletas têm de se readaptar ao novo corpo e assimilar o processo de reconhecimento motor das mudanças morfológicas
Por Gustavo Querido, Renato Buscariolli de Oliveira, William Sander Figueiredo

Caros leitores,

vimos por meio desta reflexão nos desculpar pela ausência no ano de 2009 e simultaneamente levantar uma questão bastante polêmica entre os profissionais que atuam com futebol de base: a categoria Sub-15 (Infantil) é a mais desafiante (leia-se mais complexa) dentre as categorias de base?

Antes de iniciar o texto propriamente dito, gostaríamos de esclarecer que definitivamente o intuito aqui não é julgar se uma categoria é mais ou menos importante do que outra e muito menos determinar uma escala de valores para estas. Até porque, sob nosso ponto de vista, quando se pensa nessas categorias, deve-se ter em mente a palavra processo, e neste contexto todas as etapas (leia-se categorias) que participam do desenvolvimento do “produto” final (formação de um jogador de futebol) possuem o mesmo grau de significância. É justamente a boa concatenação entre estas que leva a um produto final de alto valor.

Todavia, sabemos que há diferenças entre cada uma destas etapas. Elencaremos aqui algumas particularidades próprias da categoria Sub-15 que podem justificar o título deste texto, ou ao menos alertar os profissionais nela envolvidos da sua complexidade.

Nesse contexto, o primeiro ponto de destaque inerente ao Sub-15 diz respeito ao processo maturacional. Como é de conhecimento geral, a faixa etária que se estende dos 13 aos 16 anos (nos meninos) é também conhecida como a “fase do estirão”. É justamente nessa fase do crescimento e desenvolvimento da criança que ocorrem grandes transformações morfológicas que vão desde alterações na voz, crescimento de pelos, desenvolvimento do pênis e escroto até aumento de massa muscular e ganho de estatura. Ou seja, o corpo destes jovens atletas passa por uma série de transformações que trazem grandes implicações dentro do processo de formação.

De forma sucinta, estas implicações atuam de duas maneiras. A primeira delas diz respeito a uma readaptação do atleta ao seu novo corpo. Nesta fase, o indivíduo passa por um processo de reconhecimento motor das mudanças morfológicas ocorridas, vivenciando um período de perda de coordenação motora que em muitas vezes interfere negativamente no seu desempenho dentro de campo, visto que desde a corrida até a relação com a bola é prejudicada nestas circunstâncias. Esta fase é transiente e requer paciência e consciência tanto por parte dos atletas como pela comissão técnica responsável.

A segunda implicação relaciona-se à cronologia em que estas mudanças ocorrem dentro do elenco, visto que há uma grande variabilidade na velocidade e no momento em que estas alterações se processam. Assim, alguns atletas se beneficiam destas mudanças morfológicas (com aumentos significativos em determinadas valências físicas), enquanto outros sofrem dificuldades para superar seus companheiros mais “maturados”. Cabe à comissão técnica o cuidado para não cometer nenhum equívoco privilegiando atletas com maturação precoce em detrimento dos mais tardios, visto que os últimos podem apresentar maior potencial do que os primeiros.

É clássico na literatura esportiva (não apenas no futebol) trabalhos que apontam predomínio de atletas nascidos nos primeiros meses do ano nas categorias de base. Vale relembrar aqui aquela “velha” discussão sobre “formar ou ser campeão nas categorias de base”. Apesar de não considerarmos que estes processos sejam excludentes, mesmo no Sub-15, em que o processo maturacional interfere sobremaneira no rendimento, acreditamos que algumas ressalvas devam ser feitas.

Ainda sob este viés, destacamos o caso específico dos goleiros, já que o sucesso nesta delicada e “temida” posição parece depender (não entraremos a fundo nesta discussão neste momento) entre outros, de uma boa estatura. Assim, este acaba se tornando um caso emblemático visto que um goleiro de grandes qualidades técnicas e de referência nesta categoria pode não dar continuidade ao longo do processo de formação, se detectado (através de um exame de idade óssea, por exemplo) que não possui possibilidade de atingir alturas consideradas mínimas para o mercado de trabalho. Novamente, este será um problema vinculado a esta categoria, já que apenas goleiros com boa estatura (ou potencial para) darão continuidade no processo de formação. Os demais (cujos profissionais responsáveis investiram tempo, dedicação e empenho) serão automaticamente excluídos, gerando um estresse emocional e psicológico enorme.

Findada a temática maturacional, há a problemática relacionada ao início da sistematização do treinamento, também intrínseca ao Infantil. De maneira geral, ainda hoje, os atletas que chegam ao início da temporada para compor esta categoria em um grande clube são em sua maioria atletas que nunca passaram por um processo de treinamento sistematizado, sendo na maioria dos casos meninos que se destacam em suas cidades e em clubes onde disputam competições de nível municipal. Este processo vem sofrendo alterações, com a criação pelas federações responsáveis de campeonatos para categorias menores (Sub-11 e Sub-13) como ocorre, por exemplo, no estado de São Paulo. Todavia, muitos clubes (muitas vezes por contenção de gastos) optam por não disputar estas categorias, retornando ao quadro anteriormente citado.

Assim sendo, desde os conteúdos técnico-táticos até aos ditos físicos, faz-se necessária uma abordagem pedagógica do treinamento, já que a sistematização deste processo por si só é algo novo para estes atletas. Dar significado aos treinos, assim como a conscientização da importância de cada um deles (desde a necessidade de se trabalhar a perna não dominante até ao papel profilático do trabalho de força dentro da sala de musculação), é específico desta etapa, visto que em categorias maiores tais condutas devem estar automatizadas.

Para ilustrar esta situação, novamente trazemos à tona a figura dos goleiros. Geralmente estes são os atletas de maior estatura da equipe, apresentando uma “lentidão” peculiar na execução de determinadas tarefas motoras, assim como uma demora na assimilação de novos conteúdos, visto que seu repertório motor está em formação (lembre-se: os garotos não apresentam lastro de treinamento e estão em plena fase de estirão!).

Normalmente, os primeiros contatos com as metodologias de treino para as habilidades fechadas (pegar, saltar, cair, manipulação da bola, etc.), assim como para as habilidades abertas (estruturação do espaço dentro e fora do gol, comunicação na ação defensiva/ofensiva, saída do gol, etc.), acabam sendo marcantes nesta fase. A saída de gol, por exemplo, ação extremamente complexa que envolve a combinação de uma série de fatores para o seu êxito (concentração, tempo de bola, tomada de decisão, leitura de jogo, inteligência espacial, explosão muscular, técnica de saída, etc.) requer uma demanda de tempo e esforço enorme para que esteja bem aprimorada. Caso o profissional responsável por este jovem não tenha a devida paciência, pode correr o risco de queimar etapas ou abreviar a carreira de um potencial atleta ainda nesta faixa etária.

Podemos destacar ainda algumas dificuldades relacionadas à disciplina (devido à imaturidade) ou mesmo ao entendimento do modus operandi de um grande clube (desde a divisão de tarefas até as hierarquias presentes nestas instituições). O simples fato de o jovem atleta perceber que neste novo contexto ele é mais um bom jogador dentro de um elenco e não mais o jogador (da sua cidade ou ex-clube), além de ter que se dedicar ao máximo em cada sessão de treino, requer um tempo de amadurecimento.

Em relação aos fatores extra-campo, é no Infantil que geralmente ocorre a primeira separação dos atletas dos seus pais, principalmente no que diz respeito aos atletas que alojam nos clubes e têm que morar longe de casa para lutar pelos seus sonhos. Este é um momento delicado que exige bastante carinho e compreensão, tanto por parte dos pais, como por parte dos profissionais envolvidos, visto que este processo atinge não apenas o desempenho dentro de campo, como também as demais tarefas diárias deste jovem, interferindo diretamente em seu futuro. Aqueles atletas que não têm a necessidade de alojar, também vivenciam um processo de separação dos pais (principalmente da figura paterna), visto que o jovem passa a perceber (em alguns casos mais rápido outros mais lentamente) que o pai não é o seu técnico/preparador físico.

Geralmente, a comissão técnica que trabalha com o Infantil participa ativamente desta “transformação”, sendo esta a categoria da base que de certa forma estabelece um maior relacionamento com pais de atletas (quando comparada ao Sub-17 e Sub-20).

Esta ponte com os pais acaba sendo um papel importante no dia-a-dia deste profissional, visto que não apenas o seu carisma com o atleta, mas também com os pais, é fundamental para manutenção deste potencial jogador em muitos clubes.

Enfim, apesar das dificuldades e considerações acerca desta categoria, julgamos os profissionais que trabalham com a mesma, privilegiados, uma vez que têm a oportunidade não apenas de ensinar futebol e tudo aquilo que está envolvido com o processo de treinamento, mas também de participar ativamente da formação educacional deste jovem, podendo marcá-lo para o resto de sua vida, independentemente de qual carreira este irá seguir.

Como Manoel Sérgio já disse (sobre a relação atleta/treinador), “o que fica são os valores humanos”. Desta forma, cabe a este profissional, além de superar todos os obstáculos citados, ser diferente naquilo que faz, atualizando-se, ousando sempre e deixando de ser “mais um”. Semelhante ao que fez Paulo Barros na Unidos da Tijuca em 2010: além de ser campeão, revolucionou o Carnaval carioca!

Um grande abraço a todos e até a próxima!

Publicado no site universidadedofutebol.com.br, em 04/05/10.

"Histórico de um Craque"

Quarta-feira, 09 de abril de 2008

LEMBRA DELE? Ruben Paz, o incansável

Ex-meia do Inter jogou até os 46 anos e só parou por causa do convite de um amigo

Por Bernardo Ferreira
Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro

 

Ruben Paz já não era um garoto quando foi tricampeão gaúcho pelo Internacional, em 1984. Tinha 25 anos. Pois o meia uruguaio mostrou uma perseverança que causaria inveja a Romário, se mantendo na ativa até 2006, quando já havia completado 46 anos. 

E só se aposentou por causa do pedido de um amigo de infância, o também ex-jogador Mario Saralegui, que na época assumiu o comando do Peñarol pela primeira vez e chamou Paz para ser assistente. Hoje, os dois estão juntos novamente no comando da equipe uruguaia, desde março.

Na verdade, o ex-jogador colorado atuou em times de expressão até os 34 anos. A partir de então, disputou apenas torneios menores no Uruguai - como se fossem estaduais no Brasil, só que sem os grandes - e a Segunda Divisão na Argentina. Rubén Paz, que esteve nas Copas do Mundo de 1986 e 1990, conta que estendeu sua carreira porque se sentia bem, ainda que não suportasse os treinamentos - outra semelhança com o Baixinho.

"Quem é Ruben Paz"

Bernardo Ferreira        
  • NOME: Rubén Walter Paz Márquez
  • NASCIMENTO: Artigas (URU), em 8 de agosto de 1959
  • TIMES: Peñarol-URU, Inter, Racing-FRA, Racing-ARG, Genoa-ITA, Rampla Juniors-URU, Frontera Rivera-URU, Godoy Cruz-ARG, Wanderers de Artigas-URU, Nacional de San José-URU, Tito Borjas-URU e Pirata Juniors-URU
     

- É saudável jogar futebol, e me fazia bem estar no meio dos jovens. O problema é o dia-a-dia, o treino. Jogar é ótimo, você pode juntar os amigos e disputar uma partida. Mas eu precisava me preparar para não passar mal em campo - diz o uruguaio.


 Eliminado em Brasileirões confusos

A proximidade de Ruben Paz com o Brasil vem do berço: ele nasceu em Artigas, cidade na fronteira com o país. Foi para o Inter em 1982 e ficou no clube até a Copa do Mundo de 1986. O time fez sucesso no Rio Grande do Sul, mas nos Brasileirões sempre ficou pelo meio do caminho, em fórmulas de disputa cheias de grupos e fases.

- Hoje o Brasileiro está mil vezes melhor. Na minha época, se o time começasse mal, não ficava nem dois meses no campeonato. Era ruim principalmente para os times grandes, que investiam muito e tinham que buscar torneios internacionais se fossem eliminados - lembra o uruguaio, que esteve com o Peñarol em Belo Horizonte para o amistoso em comemoração do centenário do Atlético-MG.

Em 1985, o Colorado ficou fora da semifinal ao ser derrotado pelo Bangu por 2 a 1 no Beira-Rio. Em sua passagem por Porto Alegre, Ruben Paz teve duas filhas - Maria Fernanda e Maria Eugênia - e fez amizades que duram até hoje com ex-companheiros como Mauro Galvão, Rodrigues Neto e Edvaldo, além do técnico Otacílio Gonçalves.

”O Maracanã tinha 170 mil torcedores. Perdemos ao estilo uruguaio, jogando bem e para um Brasil que tinha jogadores em uma fase brilhante, como Romário".

-Lembrando a partida decisiva da Copa América de 1989

 Derrotado por Romário e uma torcida de 170 mil

Ruben Paz viveu de perto a última boa fase da seleção uruguaia. Além de ter disputado o Mundial em 1986 e 1990, era titular na Copa América de 1989, quando ficou em segundo lugar após perder a partida decisiva contra o Brasil. Romário marcou o gol do título.

AFP
Ruben Paz (no fundo) enfrenta Maradona no showbol, em 2007
rubenpaz

- O Maracanã tinha 170 mil torcedores, e nós havíamos feito uma partida brilhante contra a Argentina (vitória por 2 a 0). Perdemos ao estilo uruguaio e jogando bem para um Brasil que tinha jogadores em uma fase brilhante, como Romário. Fizemos uma Copa América muito boa.

Os dois Mundiais disputados por Ruben Paz entraram para a história de maneiras distintas. O de 1986 é visto como um exemplo de futebol mágico, graças a Maradona. E o de 1990, como um torneio sonolento. Na opinião do assistente do Peñarol, não há diferença técnica entre as duas Copas.

- Havia qualidade em 1986 e em 1990. Mas na primeira os times tiveram bastante tempo para trabalhar. Por isso, todos viram jogadores mais descansados, com melhor rendimento, e times mais entrosados.

O ex-jogador pode dizer que conquistou um título pelo Uruguai. Ele estava na seleção que foi campeã do Mundialito em 1980, um torneio amistoso de comemoração pelos 50 anos da primeira edição da Copa. Participaram Brasil, Argentina, Alemanha, Itália e Holanda (substituindo a Inglaterra), além dos donos da casa.